sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

MINI-ENTREVISTA COM SANDRA TALARICO


         1) Quem é você?

Mulher. 43 anos. Carioca, filha e neta de imigrantes camponeses. Nascida no subúrbio do Rio, criada no coração da zona sul e atualmente vivendo na Barra da Tijuca. Cresci entre a praia de Ipanema, a orla da Lagoa, a Floresta da Tijuca, o carnaval de rua, o samba suburbano, o céu recortado por morros sem igual e os banhos de mangueira no quintal-pomar dos meus avós, próximo à linha de trem.

Se minha alma é carioca, dentro dela arde uma centelha hermana. Buenos Aires é onde está a parte mais considerável da minha família e amigos. Bem lá, onde o horizonte parece mais distante e o sol parece maior.

Dos passeios com meu pai aprendi a amar o carnaval de rua, o centro do Rio, o porto, a arquitetura luxuosa do espelho empresarial, a exuberância do centro histórico, a alegria festiva do centro boêmio e cultural, coalhado de tanta diversidade quanto era possível perceber. Meu pai também me ensinou a aventura, a vontade curiosa de sair em direção ao desconhecido, a fome de viajar, conhecer, me misturar e abraçar o mundo. Do convívio com a minha mãe, artista plástica, com um olhar poético, crítico e surrealista, aprendi a beleza das coisas e que sempre é possível ver além do que parece. Ela me ensinou  a aceitar minha criatividade e inventar um jeito próprio de ser e estar. Feminista desde o ventre que me gerou, por um breve tempo  fui militante partidária. Breve, porque a experiência reafirmou minha certeza de que meu fluxo é independente.

Amo a cidade do Rio. Uma cidade que quero mais afetiva, acolhedora e inclusiva. Uma cidade que faça jus ao cenário que a emoldura. Que reconheça, respeite e preserve a sua história, a sua natureza e a sua gente.

Formada em psicologia, nos últimos 10 anos tenho atuado com educação a distância. Atualmente em transição profissional, tenho me dedicado à prática e ensino de yoga, que cada vez mais ocupa lugar central na minha vida, com especial dedicação à yoga com crianças e práticas voluntárias em centros de reinserção social de jovens e adolescentes.

Fotografa amadora, minha mente é um imenso acervo em jpg. do mundo. Por isso, acho que sou uma colecionadora. Vejo enquadramentos e jogos de luz e sombra em tudo ao meu redor. Acho que foi um movimento natural que veio pelo desenho, pela minha mãe.

Tenho interesse em temas relacionados a formas não violentas de relação com o meio, as pessoas, o trabalho, a alimentação, a vida.





2) Qual o seu envolvimentos com a mobilidade ativa?


Antes de qualquer coisa, eu me reconheço como pessoa que anda. Caminhar é o meu modo primeiro de deslocamento. Tive carro por 20 anos. O vendi há quatro. Optei por meios ativos ou transporte público. Motivação: o carro passou a ser desvantajoso economicamente e inviável logística e emocionalmente. Há 1 ano fiz minha primeira ciclo viagem. Isso colocou a bicicleta em um lugar afetivo muito especial. A bicicleta, aquela magrelinha, passou a ser um meio de diversão, de comunhão (comigo mesma, com outras pessoas, com os lugares), de observação, de superação, de locomoção eficiente e ágil, de saúde, de higiene mental.


A partir dessa ciclo viagem comecei a ir de bike para o trabalho, o mercado, a noite, a praia, ao cinema, visitar a família, enfim, tudo. Também, foi por essa ocasião, que eu conheci o Ciclo Cidade e fui participar do Bicicultura em SP. Lá, um mundo se abriu. Um mundo que eu ainda estou descobrindo.

Modestamente, meu envolvimento e contribuição mais efetivos são apenas usar minhas pernas e a bicicleta para me deslocar, divulgar pela ação seus benefícios, vantagens, atravessamentos e potencial de mobilização e ação política ampla. Também, procuro apoiar ações de pessoas que estão há bastante tempo atuando com mobilidade ativa. O que de mais consistente tenho feito nesse sentido é estar presente como bike anjo em Jacarepaguá - só não contem comigo em janeiro ou fevereiro. Eu existo fora do alto verão.

3) O que você faria para melhorar a mobilidade ativa na Cidade do Rio de Janeiro?

Não entendi a pergunta, vou responder das duas formas que entedi (A e B).
A. Poderia contribuir com registros fotográficos sobre o uso e a qualidade dos espaços públicos; registro documental sobre acesso, acolhimento, segurança das ruas para pessoas com necessidades especiais, idosos, mulheres, crianças, trabalhadores que usam a rua ou bike ou semelhantes para tirar seu sustento, prover serviços; levantamento de dados (por exemplo contagem) de modo a gerar insumo que possa orientar e pautar decisões político administrativas; oferta de atividades educativas em escolas, ou mesmo autoescolas ou junto aos centros de capacitação e atualização profissional de motoristas profissionais (ônibus, taxis, etc); atividades educativas e/ou informativas junto à técnicos dentro do aparelho público administrativo. Coisas desse gênero.

B. Se a pergunta se refere ao que eu acho que poderia melhorar, bem, mais informação e campanhas de sensibilização da população para uma mudança de atitude e comportamento - com humor e sedutoras, mais cheias de conteúdo significativo; mais verde, mais flores para tornar os percursos mais agradáveis, mais humanos, menos áridos e quentes; restrição da velocidade dos automóveis (e garantia do cumprimento dos limites de velocidade); integração eficiente entre percurso a pé, de bike, transporte público; iluminação adequada (ruas escuras me deixam insegura); desenhos de rotas para pedestres e ciclistas que levem em conta a experiência do usuário, que ao invés de dificultar seu deslocamento, o facilitassem; ciclovias e ciclofaixas adequadas (veja, uma rua com espaço para 2 carros, sem calçada para o pedestre, tem um dos lados tomados por carros estacionados, pinta-se uma ciclofaixa depois do espaço naturalizado como estacionamento, nesse exíguo e, a meu ver, inadequado espaço, o ciclista compete com os carros que passam rápido e perto demais pela faixa restante, pedestres que não tem calçada para passar e com a sorte de uma porta de um carro estacionado não abrir sobre ele… isso não dá!).

Nenhum comentário:

Postar um comentário